quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Apetece comer este blogue!

Só para dizer que apetece comer este blogue

Cito a Natália Correia para quem "a poesia é de comer" - Mas estou atento e de facto adoro o que aqui é dito - Aliás - "O Mar parece azeite" é o acontecimento do milénio - Não vai demorar a uma História da Literatura do século XXI português reconhecer este blogue como Essencial -
Porque é activo, é dinâmico , É BOM - Este é o argumento -

Este bolgue apetece comer!


Continuem a conspirar na Reitoria para criar um MONSTRO POÉTICO indomável.

Eu estou de fora, mas estou atento qual Trotsky de pena na mão pronto para lutar contra as touperias inimigas do literário!

Marquem o jantar! É necessário que a conspiração tenha um lugar físico também!


Saudações poéticas!

Chegaste-me em linhas precisas

ah esqueci-me do epígrafo!

Aqui vai direito:

"What's in a name?"
(Williame Shakespeare, in Romeo and Juliet)



Chegaste-me em linhas precisas.
Ousara balançar-te as letras,
como se em traços espiralados os encontrasse.
Os nomes.
As denominações inconstantes, distantes,
os nomes deselegantes.
Procurava as cotovias e escrevia os elefantes.
Haveria talvez traços de ti nas palavras.
Sonografias amenas.
O som das palavras serenas
em ti.
Se na poeira dos esboços partiste, nada ficou.
Chegaste-me em notas pequenas.
Não por rompantes de luas mas em grafites e penas.
Tracei-te o rosto.
Não serias a curva solta ou o plano interrompido.
De ti a liberdade,
O ponto não definido!
Pois para quê pontuar-te se em desconcerto me abarcas?
Não procuro agora definir-te paredes, se em tectos foste feito para soltar.
Em linha te abrigo, sem nome,
Sem a sede de te traçar.
Pois em ti de perto o traço e a linha por terminar.
E se em ponto de quem termina
A palavra ainda faltar
Abraçarei a tinta-da-china
(ou na tinta que me restar)
o traço de quem assina
o prazer de não nomear.

Maria Inês Beires


(peço imensas desculpas pela demora, mas foi-me mesmo impossível vir cá antes!)

Não passa nada

Saí noite fora de olhos no chão.
Ridículo tropecei no tapete,
no degrau, no fecho da porta
automático- ruído de grilo
aos pedaços no hall vazio!

As caixas dos correios etiquetas
"não obrigado" publicitário
o riso do silêncio atrás das orelhas!
Quiz sair para a noite escura.
Na bofetada poros à pressa
na defesa espantada das navalhas
gélida aragem!

"Não falas! Não falas!"
Nos balões dos meus desenhos:
"Não quero! Não quero as minhas palavras!"
De novo:" Não falas! Nâo falas!"
Mais alto:"Não falas! Não falas!"
Eu mais baixo, coberto de almofadas:
"Não quero! Não posso! Já basta!
Não passa nada!"

Saí porta fora olhos compridos
o chão da entrada o hall vazio!

Gostei do frio.Ajustou os invernos
corpo de cruzeta no varão da escada,
descendo o passeio de bengala
fato e gravata e os pés ao alto
foragido na noite errada!

O céu lá fora! Estrelas nada!

Pingos de vidro nos telhados
um grande iglo gelado
as vidas miudinhas e Gulliver
Poppins a voar de nuvem
e as vidas miudinhas
as cabeças pequeninas!

"Não falas! Não dizes nada!"
Fundo bem fundo no obscuro
circuito do meu mundo:
"Não posso! Não quero! Não passa nada!"
Mais alto:"Não falas! Não falas!"
Fervendo gelos na calçada
"Não posso! Não quero!
Logo volta a madrugada!"