terça-feira, 11 de outubro de 2011
lugares habitados de raízes
Gustav Klimt "árvore de vida"
ar iluminado na frente dos teus lábios
é contigo que falo, na proximidade das sedas -
estendo os olhos, alienado, nas linhas vermelhas
e embalo os braços por uma nave sem tempo
querendo o pormenor branco, o desvendar de segredos,
tão extremos, nas pontas agudas da pele, nos cabelos -
procuro a medida exacta, a forma dos dedos
nos outros dedos que tremem, um terramoto
de consequências inusuais mas de supremos habitáveis
porque elevados ao vestir do fogo, ao segurar das cinzas
e o recomeçar, um eterno retorno
à origem do teu rosto, um destino -
é contigo que falo ar sapiente de cores
no limiar de um interior fulminante
na proximidade de terras sem nome;
o descobrimento do mercúrio
a tabela do sonho, o novo elemento -
é contigo que falo ar medonho
porque no curto espaço
seguras o tempo, um íman de cada lado
e misturas o intervalo dos cimentos;
afastas a resistente sobrevivência de sons, ecos distantes,
tambores, címbalos
e colocas terras, montes, cidades, pequenas aldeias
alcatrões longos, planícies de longínquas azinheiras,
no prolongamento de um Cronos sem paciência,
no adiamento da soldadura das asas, fechadas
na almofada dos ombros, na epopeia dos lábios
contínuas prímulas e a repetição das noites -
haverá o dia do nascimento
quando dédalos verdes
fixarem as telas e as aguarelas inconstantes,
qual Penélope de longos cabelos na urdidura de um tapete -
haverá destinos mais maduros nas vinhas de todos os vinhos
e os bagos rolando sobre as ruas e os labirintos
porque são imensamente fortes, são mais fundos,
os lugares habitados das raízes
que engolem a terra
e aproximam horizontes -
José Ferreira 11 Outubro 2011
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