Os dedos nos pianos quando correm pelas teclas brancas e pretas perseguem a harmonia. A existência no humano assim como na música, não é uma fuga é uma descoberta pela melodia, como os violinos, e depois há outros caminhos, a percussão, os ritmos encontrados e desencontrados deste lugar difícil que habitamos, mulheres e homens, e uma complexidade de cabeças, com os neurónios cheios de faíscas.
“Sentimento de Si” palavras de Damásio, título de um livro, a procura de um território desconhecido, consciência e inconsciência, juntos e em uníssono, ou de um outro modo a dupla face oposta das moedas que procuram encontrar-se, que procuram um equilíbrio, o melhor lugar do atingível.
Esta é apenas uma introdução a uma complexidade que existe no humano e que o separa da natureza conforme a percebemos, porque a natureza procura um equilíbrio sem peso, e atrai imenso nessa autenticidade própria do instante, do momento, que se esgota sem culpa pelo antecedente, preparando sempre o seguinte.
A extrema leveza de ser é uma característica da natureza seja na planta, na flor, na erosão do monte, no espanto de um cume branco, frio e envolto em nevoeiro translúcido, ou de uma luz longe de muito e mais perto ainda, do infinito.
No reino animal o instinto guia, é um domínio infra do humano. A estaca mais abaixo, o primeiro degrau da pirâmide e supomos que perante o laço mais apertado é o limiar de uma realidade, um caminho, que tememos e podemos atingir. A irracionalidade da loucura muitas das vezes mais não significa que a sobrevivência do indivíduo.
Em todos os lugares procuramos o equilíbrio, quem o negue não percebe, é uma fuga sem destino. Caminhamos com a alma numa mão e com a planta dos pés pousada nas pedras e nas areias do caminho.
Os caminhos têm paragens como os autocarros, por vezes tocamos a campainha e saímos, olhamos uma outra paisagem e procuramos qual a cor da terra, da erva, das casas, das pessoas, procuramos a identidade que nos guie e o equívoco que nos afaste, procuramos raízes, raízes de harmonia e melodia, e um lugar de bem-estar, um lugar tranquilo como um lago na Suiça, límpido, sereno, num grande espelho a olhar o céu e a esperar os cisnes.
Os lugares nunca são completos, têm as fases pisca-pisca, no entanto em todos eles há sempre páginas escritas e tijolos que se erguem, direitos nas paredes, e em espaços nas janelas e nas portas de fechaduras e cheiro de madeiras, ou em esquadrias, com muitos vidros.
Os lugares, todos os lugares são sempre de passagem para um lugar lá à frente, e esse é o lugar da existência, o futuro que desconhecemos.
Esse lugar do futuro equivale a uma estátua de cada indivíduo e é única, e essa é a razão, a razão interminável do humano, tão mais valiosa quanto mais se multiplique, fazendo parte como células da estátua de outros indivíduos, das suas almas e dos seus caminhos, como um tecido, que ganha forma, que se estende, e que se aproxima, cada vez mais de um mundo melhor e mais completo, e do infinito.
josé ferreira 22 agosto 2012