segunda-feira, 7 de maio de 2012

um poema para minha mãe


                               Pablo Picasso 

os braços nos braços de minha mãe
um grande sorriso
um recuar de muitos anos
quando escrevia uma quadra de palavras bonitas
as mesmas que surgem agora  como asas de ternura
quando  me dizem : meu filho
quando lhe digo: minha mãe -

são palavras de muitos gestos que escrevemos
quando roça as mãos no meu cabelo
e um grande sorriso
não há palavras ditas não é preciso
não há desculpas, nem lamentos, nem mágoas escondidas
uma claridade, uma felicidade completa nos olhos de minha mãe
e sinto-me tão pequeno -

como naquele dia mais antigo:
calções nas pernas finas e um postal de desenhos
uma quadra feita de caligrafia, letra a letra
e rima, sempre uma rima
uma rima que dura muitos anos, sempre, infinita, sempre
na vida de alguns netos e de cinco filhos –

e todos escreviam –


José Ferreira  

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