Resolvi publicar um texto de um livro de Jiménez, autor espanhol do principio do século XX , com um nome sugestivo "Platero e eu". Convém desde já dizer que o Platero era um jumento que sempre acompanhava o escritor nos seus passeios e interrogações na Natureza. O livro tem um autor e o seu auditor (Platero) e uma sequência de pequenos textos poéticos dos quais aqui vos deixo um.
Última sesta
Que triste beleza, amarela e descolorida, a do sol da tarde, quando acordo debaixo da figueira!
Uma brisa seca, embalsamada de esteva derretida, acaricia-me o despertar suado. As grandes folhas da branda velha árvore, mexendo-se de leve, enlutam-me e deslumbram-me. Parece que me embalam suavemente num berço que fosse do sol à sombra, da sombra ao sol.
Lá longe, na aldeia deserta, os sinos das três tocam as trindades, atrás das vagas cristalinas do ar. Ao ouvi-las Platero, que me tinha roubado uma grande melancia de doce gelo escarlate, em pé, imóvel, olha para mim com os seus enormes olhos vacilantes, onde anda uma pegajosa mosca verde.
Perante os seus olhos cansados, os meus olhos cansam-se outra vez...Volta a brisa, como a uma borboleta que quisesse voar e a que, subitamente, se dobrassem as asas...
as asas... as minhas pálpebras frouxas, que, rapidamente, se fecharam...
Juan Jiménez "Platero e eu"
2 comentários:
Eu gostei muito da traduçao .
É um texto lindíssimo,o autor Juan Ramón Jiménez recebeu em 1956 o prémio Nobel.
Eu recomendo a leitura completa.
Ängeles
É um belo livro que um amigo muito querido leu para mim alguns capitulos, recomendo pra todos de todas as idades.
Mara
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