quarta-feira, 11 de março de 2009

Fito-me

Dizes hesitante, inseguro, pouco audaz
o caminho por onde vou

e eu não sei dizer o sim
de passo descoberto
nem como outros
não, por aí, por aí não vou.

caminho longamente junto à praia
escondo o outro sal jorrando dentro
e quando alguém me fita mais seriamente
falo do horário, do tempo, do vago
num olhar sem carapaça
e aguardo agulhas finas
que espicaçam
por onde devo ir...
por aqui ou por ali?
qual o lugar?

Fito-me e visto-me interiormente
de penas e já não quero ir...
quero voar.

3 comentários:

M. disse...

José,

Goestei muito deste seu poema. Muito diferente do que costuma escrever e muito mais livre.
"escondo o outro sal jorrando dentro" é um bonito eufemismo para as lágrimas que só choramos dentro de nós. E gostei muito também do tema: "Fito-me"...que entendi como o acto de nos olharmos a nós próprios e nos confrontarmos. Traz-nos a imagem nítida de um espelho- aquele lugar onde finalmente nos vemos de fora, como a um outro. Finalmente gostei também muito do "visto-me de penas interiormente", esse desejo expresso de voar.
Muito, muito bonito
Parabéns

P.S: Que ninguém nos ouça, olhe que as proíbidas reticências não ficam nada mal neste poema!

M. disse...

"Goestei" é a pronúncia do norte a chegar-me de madrugada....claro que queria dizer "Gostei"

josé ferreira disse...

Marlene aqui que ninguém nos ouve confesso que fui descoberto e o objectivo deste poema era mesmo para ver se alguém apoiava pelo menos umas reticênciazinhas!

Bjo e obrigado pelo comentário