Vivo
Sem a loucura do concreto
Moro
A insanidade do incerto
Tenho razão para acreditar
Que a cabeça é um lugar
E habita nela uma Escola de Samba
Voam
Pensamentos dos pombais
Partem
Do cérebro cacos cerebrais
Tenho motivos para sentir
Que a cabeça anda a fugir
E corre nela uma Escola de Samba
Varro
O sono dos últimos dias
Solto
Declarações, sermões, orgias
Masco o real em ultra-sons
Pinto a cabeça de outros tons
E soa nela uma Escola de Samba
Valem
Tanto mais estes convictos
Velam
Pelo real e por seus mitos
Lanço estilhaços de indiferença
Sua cabeça minha sentença
Parece ela uma Escola de Samba
Assumo
O carnaval em pleno Inverno
Consumo
O dia qual pedaço eterno
Tenho loucura de viver
E a cabeça sem saber
Só sabe dela – é uma Escola de Samba
2 comentários:
Como de costume um jogo fantástico de palavras em ritmo de "Escola de samba". O teu poema lê-se de uma assentada, não deixa respirar, "voam", "varro", "valem",
"assumo" "O Carnaval em pleno Inverno" "tenho a loucura de viver/e cabeça sem saber/ só sabe dela..."
Poema estilo "Marlene dança"
Uma bela amostragem de assumida instabilidade e da inconstância ao querer-se vivências subjectivas "sem a loucura do concreto", habitando "a insanidade do incerto"; ao mesmo tempo que se lança desprezo ("estilhaços de indiferença")acaba-se por se querer "carnaval em pleno inverno"(assim é em Portugal) e "loucura de viver", mesmo que egocentricamente, e tudo isto numa mente que fervilha de tanta sensualidade e de musicalidade(uma cabeça-Escola de samba)....Excelente. Muitos parabéns, Marlene.
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