Aflige-me o equilíbrio do corpo, o sentido da mente,
vejo-a e sonho com paisagens primaveris e rostos
e rostos encantados.
(Ternas saudades). Despertas
pelos graves de uma doce alucinação solitária
num palco inundado pelas cores e pelas cores
e pelo magnífico som da trompete e do saxofone.
Ela ali, ali com duas pernas de pedra e peitos angélicos, uma
face vagabunda que me descompõe o raciocínio. E o teclado
que mantém o ritmo atordoado, o bater
que é mais um e mais um e mais um. E mais tantos saltos
e despejos de emoções que nos fazem viver
a excessividade de uma vida de alvoroço.
Clama, clama e silencia. Como se testando o sopro, o seu sopro.
O éter da sua vida efémera que é prodígio e se desfaz
em pequenas situações de êxtase que ela, apenas ela, enxerga.
Chora, sente. Ri, esfarela-se.
Dança o seu bailado ensaiado e decora e relembra os passos ritmados
que lhe acodem o poderoso vociferar.
A voz só que canta e canta.
E desespera no seu mundo intranquilo. Os holofotes que a difamam
e os braços erguidos que lhe suplicam, recomeça.
(Recomeça).
Como se perdida no atempado metro que ela própria criou, não
está perdida, somente maravilhada.
Aturdida.
(Bebe).
Leva à boca a sua droga amiga, tão amiga, e
a cada gole, dá mais um passo. E a cada passo, mais um erro.
Mas o público é ignorante, esquece, pede mais.
(Suplica).
Implora pela voz que o guia e o embala, implora pela voz que o seduz.
Roga pela voz só.
David Campos Correia