quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Sobre a insensatez

Imprudentemente
Tremo
Os ossos, as pernas, o corpo
Que temerosamente cuidam
Serem base, prato e copo
Meus alicerces servidos
Sobre a mesa de jantar
De medos bem guarnecidos
Num imponderável manjar
Meus acessos de loucura
Brandos comes brandos bebes
Trazem-me água e fartura
Para cobrir as minhas sedes
Tanto faz se não me vês
Tenho febre e insensatez
E se não me vires ainda
Tanto fez
Tanto fez

1 comentário:

josé ferreira disse...

Marlene andei a dar voltas ao teu "quadríptico" sobre: insensatez, vontade, resignação e ausência e surgiu o seguinte:
- na insensatez deparei surpreso com "alicerces servidos em mesa de jantar de medos guarnecidos" na "imponderável" loucura de "febre e insensatez" que em poesia resultou "tanto(muito) faz" e em mim como leitor, como apreciador de harmonias "tanto(muito) fez"
-na vontade, esse querer profundo de ter sede, procura-se o copo, escoa-se o líquido e de novo o desejo. o importante "c'est la rose" o importante é ter sede
-na resignação, que é revolta,
antes a dor do que o vazio, o ser nada, antes o "espinho confortável"
-na ausência há duas leituras que não quero deixar de relevar, a primeira "a ausência ocupa espaço" verdade irrefutável que tantas das vezes nos esmaga no paradoxo da sua dimensão: não está e existe ocupa quase tudo, empurra contra às paredes. A segunda a tua homenagem à palavra que dizem só devidamente reflectida em português " a saudade" e o que acescentaste de modo a dar-lhe ainda mais corpo "a consistência da saudade".Lembrei-me agora do coelhinho da publicidade, aquele do duracell, a saudade dura... dura...dura..., não acaba nunca de tantas coisa,tanta gente, tanta vida e depois pula-se e avança-se, e mais à frente lá está ela a saudade de novo, de novas, e até já podemos começar a ter a "consistente saudade" do que está para acontecer.

Gostei muito da forma como com a tua poesia me fizeste reflectir e se
achares um bocado "quadrúpede" este comentário ao teu "quadríptico"não faz mal porque até acho engraçado ter orelhas compridas afiladas, andar à solta nas serras mirandesas e também é simpático de vez em quando pertencer a uma raça em vias de extinção!

Bjo e muitos parabéns!