terça-feira, 21 de outubro de 2008

Intrusa

Mal entrou, o ar encheu-se de um forte cheiro a volúpia que confundiu o religioso aroma dos nossos cachimbos. Violentamente, a pacatez morna do clube foi sacudida pelo estouvamento atrevido e delicioso da sua voz. Foram poucas as palavras, mas todas deixaram adivinhar uma vida sem morada certa, com errâncias inesgotáveis pelo sentir. O andar firme, os gestos desleixados, o vestido que mais parecia uma segunda pele e que despertaria inveja a um qualquer olhar feminino, não deixaram nenhum de nós indiferente. Diria mais. Incendiaram os mais adormecidos desejos. Provocaram as mais disfarçadas intumescências. Profanaram os mais puros sentires. Que destino lhe (nos) estaria reservado?

6 comentários:

liliana disse...

Gosto muito da aura de mistério que o texto cria, um futuro em que tudo pode acontecer e a ponte final para a incerteza do porvir da personagem e do proprio leitor.
Gosto das imagens que o texto vai criando no leitor, "o andar firme" e a "segunda pele". well done :)

Elza disse...

Consegui estar lá, nesse cenario, e nos sentires que o texto descreve...

josé ferreira disse...

O aroma dos cachimbos, o estouvamento atrevido e as nuvens de fumo no ar, suspeições errantes em vidas sem morada certa e errâncias de sentir.
A dúvida e o desejo!
Texto curto e sugestivo, gostei!

Ana Luísa Amaral disse...

muitos parabéns, Auxília! pela contenção e sugestividade, simultaneamente. conseguiu gerar um ambiente de tensão muito forte, com pouquíssimas palavras

Maria Inês disse...

Gostei imenso do texto! Gosto especialmente da frase "confundiu o religioso aroma dos nossos cachimbos". Muitos Parabens!

A desalinhada disse...

Este seu texto, contido nas palavras, é bonito, forte e muito sugestivo! "Estive" lá e "vi" entrar essa intrusa exuberante e sedutora! ,
Gostei muito!
Espero, Auxília, que esteja mais tranquila e ... conformada! Só li o seu comentário à " A minha bata amarela",uns dias depois da nossa última sessão.
Se esse arremedo de poema a ajudou,
um bocadinho, nesses momentos tristes de perda, a "bata amarela" terá, apenas, cumprido a sua missão, querida Auxília! Obrigada!
Um grande abraço. M.C.
Estou sempre aqui, mesmo sem bata amarela!