quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Soneto a uma Vénus de Tiziano


O seu cabelo preto parece cantar,
seus membros cintilam brancos como natas,
como se o gracioso corpo adivinhasse
que era a doce soma de graciosos sons.

Está deitada na sua longura implorante,
apoiada num género de otomano,
como se fosse um estandarte alto e delgado,
amavelmente inclinado para os homens.

Um ramo de violetas sorri-lhe nas mãos,
endereçando ao observador odores,
a serva ajoelhando-se perante o altar.

Ó, olhar de novo aqueles cabelos
e ainda uma vez mais a magnífica
imagem humilde do seu doce lombo.

Robert Walser, em histórias de imagens, Cotovia (2011)

1 comentário:

josé ferreira disse...

António,
gostei do poema que não conhecia e o quadro fez-me recordar um desafio, lançado pela Ana Luísa, em confronto com o quadro de Manet, Olympia, que surge como uma resposta à Vénus de Urbino. Republiquei por essa razão, e como o tempo passa, o meu poema era de 2009!