quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Castanhas e chocolate




Estava a comer castanhas cobertas
De chocolate. Devorava-os, feliz,
As castanhas e o chocolate, e era
Muito bom. Sem cascas, as castanhas,
Sem prata, o chocolate, comem-se
Facilmente – pensava eu. E era assim.
O gosto delas e o gosto a chocolate.

Uma voz – a da minha mãe – soou alta
E ameaçadora: – Vais ficar com dores
De barriga e os dentes podres, guloso!

Encolhi-me como pude – as castanhas
De chocolate na boca – para não ouvir,
Pelo menos muito bem, aquelas palavras
E senti por momentos os dentes podres
A cair e muitas, muitas cólicas intestinais.

Uma luz habitual de todas as manhãs
Beijou-me os olhos ensonados. Terna.
Espreguicei-me e surgiram-me uns lábios
Pé-ante-pé e sorridentes na testa morna
Ainda adormecida. Fiquei contente. Sorri.

A minha mãe prometeu-me um chocolate
Se eu lavasse os dentes depois de o comer.
Não pude esperar para me deliciar.

Dormira comigo um sonho generoso e cruel.
A minha Mãe já morreu. É mentira, sim, é
Mentira. Trago-a doce sempre no coração –
2011.11.09
José Almeida da Silva

2 comentários:

josé ferreira disse...

José,
um belo poema, onde castanhas e chocolate são o argumento para a doçura de um sonho, um sonho carregado de afectos

Clara Oliveira disse...

registo, José, "de chocolate na boca - para não ouvir" e "lábios pé-ante-pé". Doces quadros.