quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Wally (poema de Sylvia Beirute)



















WALLY


(traduzir o poema. traduzir a tradução.
traduzir a tradução da tradução.
equilibrar uma hesitação na bússola. )
há uma espécie de wally
no corpo do poema que abdica
da sua construção metódica, que se esconde
nos fotogramas dos ecos que se entrelaçam
para escurecerem
sem ceder a arrumações de ideias,
existências completas, corporeidades
absolutas.
não importa mudar as palavras, o poema
seguirá com a sua expectativa legítima,
o seu âmago azul,
a sua particular desmemória e demência,
seguirá
com a validade que dissolve sentidos latos
no interior ácido de sentidos estritos, será
como neve numa recordação invisível.
e eu? eu ainda aqui resto, na beira-mar instintiva
de uma beleza mais fluvial, meditativa,
num fósforo íntimo sobre a rasura
de uma comparação entre dois gestos,
eu procurando o meu wally ou um pequeno
modo de o encontrar,
eu insinuada sobre a importância dos instantes,
eu sobre o poema esperando
o mais fundador sinal de inspiração.
E a propósito: que horas são no poema?

Sylvia Beirute
inédito

4 comentários:

Joana Espain disse...

Olá Sylvia

'A pequena hesitação da bússola que não sabemos equilibrar, que nos deixa dentro do poema em desmemória, em fotogramas, insinuados sobre os instantes..que horas são no poema?'

Tudo imagens, tudo sobre elas. Muito bonito.

Tenho que repetir: 'a pequena hesitação da bússola....'

Sammy disse...

poeta de culto esta s. beirute.

Anónimo disse...

Mais do que o poema, acho graça ao poeta que se apresenta. "Poema inédito de Sylvia Beirute"...e a orelha levanta...hummm quem é a Sylvia Beirute que nos ofereceu um inédito.
Até nos esquecemos que este mar todo ele é inédito!
Escreve muito bem....e apresenta-se como um cartaz luminoso de uma estreia a visitar...e esse orgulho autoral de uma certa pose poética também é preciso!

josé ferreira disse...

Olá Sylvia
gostei muito deste poema. já o tinha comentado ontem mas deve ter fugido numa rede de vento.
o início com ""traduzir a tradução" e os sentidos escondidos nos versos do poema e ainda "a hesitação de bússola", " a desmemória e a demência", " a beleza mais fluvial", " o fósforo ìntimo sobre a rasura" e "a importância dos instantes" na descoberta do "wally" ou seja a hora sem horas do poema.

Abraço