Enviaste-me as tuas mãos
e os teus dedos travestidos
de flores. Entre elas havia
uns lábios gordos de sangue,
dispersos de desejo. De mim?
Deitada e nua, espero-te
com meu olhar aceso
como o da negra,
como o do gato,
na serena tarde alvoroçada.
[De certo tiveste uma reunião
ou não foste capaz de confrontar
a força do prazer e a consciência.
Enviaste-me flores anunciando
a perversa bondade da acção.]
Agora só te falta a minha mão
os meus adornos, a minha flor
entre laços e abraços de ilusão.
Vem despentear a loucura
que Eros semeou em nós. Vem
ser meu rei e meu prazer. Serei
a tua Vénus e a tua Olympia – corpo
de sede no calor de um beijo e fogo
convidando o fogo do outro olhar.
José Almeida da Silva
2 comentários:
José gostei muito deste poema em especial no inicio onde surgem "dedos travestidos" e "lábios gordos de sangue" e no final o chamamento erótico "convidando o fogo do outro olhar".
Gostei do registo muito erótico do seu poema, José, para o qual o leitor é também convidado por interposta Vénus, ou Olympia. Muito bem.
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