no meu alpendre vermelho
as silhuetas despidas no pomar
desenham mapas, caminhos e destinos
à espera
no meu alpendre vermelho
contra a parede encrespada
o sol enxuga a roupa, o corpo e os pensamentos
de mulher
no meu alpendre, que é vermelho de sangue de boi,
respira-se pó de terra lavrada
e ouvem-se fumos, químicos e murmúrios de fábrica
ao fundo
no meu alpendre vermelho
há um corrupio de passos pequeninos
como átomos, células ou moléculas de afecto
a aprender
no meu alpendre vermelho
as aranhas parecem cientistas acrobatas
em (des)equilíbrio entre pesquisa, experiência e criação
por um fio
no meu alpendre, que é vermelho de bagos calcados,
quando é quarta ou domingo
passam tiros, cães e caçadores
sem convite
este é o primeiro Outono
no meu alpendre
em Israel
ana lúcia figueiredo
3 comentários:
Ana Lúcia gostei imenso deste poema. Sou um pouco lento na percepção, a leitura em directo não a capto de primeiro olhar, há palavras que me ficam e prendem o seguir das mensagens. Gosto de alpendres e não os supunha vermelhos como tão bem pontuaste o poema, com força que a determinada altura é acrescentada na intensidade de "sangue de boi". Tem melodia, é rico em imagens e quanto a mim termina de modo ideal com o improvável "Israel".
Muitos parabéns!
Gostei muito. Acho que existe um alpendre vermelho de sangue de boi e de bagos calcados de onde tudo se vê lá em Israel. Parabéns:)
Acho excelente a última observação do José Ferreira, sobre o "improvável Israel". Gostei imenso, Ana Lúcia. O vermelho do alpendre ganha, obviamente, uma tonalidade política quando chegamos ao final do poema. Muito bem.
Enviar um comentário