domingo, 25 de outubro de 2009

CAIM

A alma içada no teu rosto
invadida de terror e sangue,
e exangue o corpo de Abel.

Em ti, Caim, se abate o céu,
e a voz de Deus.

– Por que mataste a inocência?
Errarás então por esse oriente
e serás penitente
no castigo.

– Morrerei, Senhor, onde lavrar.

– O Sol de ti: o meu sinal.

Clara Oliveira e José Almeida da Silva

3 comentários:

josé ferreira disse...

Clara e José gostei muito da divisão que se "abate" sobre o vosso poema. primeiro a fase introdutória à voz de Deus e finalmente o diálogo. Acho que resultou bem o "sangue " e "exangue" do inicio e do "porque mataste a inocência?". Tenho dúvidas sobre o "morrerei" acho que se ficasse só "Senhor onde lavrar" talvez fosse de considerar. também gosto da forma como termina procurar o sol como penitência que liga ao "penitente" anterior. procurar o sol e o sinal de Deus.
Parabéns

José Almeida da Silva disse...

José, muito obrigado pelo comentário.
A forma verbal «Morrerei» aparece como súplica a Deus, a fim de que lhe seja perdoada a «morte da inocência», e sugere a sua incapacidade para suportar a errância («Errarás» / «Morrerei»). Neste sentido, creio que a aceitação da sua sugestão retiraria força à dimensão da humilde súplica. Daí, a resposta de Deus: («O sol de ti: o meu sinal.»).

A sua sugestão foi importante, porque me fez reflectir sobre o poema.

Ana Luísa Amaral disse...

E se for

"Hei-de morrer, Senhor, onde lavrar"?

Gosto muito do poema!