As Minhas Asas
Eu tinha umas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Que, em me eu cansando da terra,
Batia-as, voava ao céu.
– Eram brancas, brancas, brancas,
Como as do anjo que mas deu:
Eu inocente como elas,
Por isso voava ao céu.
Veio a cobiça da terra,
Vinha para me tentar;
Por seus montes de tesouros
Minhas asas não quis dar.
– Veio a ambição, co’as grandezas,
Vinham para mas cortar,
Davam-me poder e glória
Por nenhum preço as quis dar.
Porque as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Em me eu cansando da terra
Batia-as, voava ao céu.
Mas uma noite sem lua
Que eu contemplava as estrelas,
E já suspenso da terra,
Ia voar para elas,
– Deixei descair os olhos
Do céu alto e das estrelas…
Vi entre a névoa da terra,
Outra luz mais bela que elas.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me deu,
Para a terra me pesavam,
Já não se erguiam ao céu.
Cegou-me essa luz funesta
De enfeitiçados amores…
Fatal amor, negra hora
Foi aquela hora de dores!
– Tudo perdi nessa hora
Que provei nos seus amores
O doce fel do deleite,
O acre prazer das dores.
E as minhas asas brancas,
Asas que um anjo me seu
Pena a pena me caíram…
Nunca mais voei ao céu.
Almeida Garrett, in Flores sem Fruto
3 comentários:
Origado Celeste por este poema inesquecível de Garret.
Abraço
Pois, é de Flores sem Fruto. Peço desculpa, José. Foi a Celeste? Está por aí, Celeste?
um abraço,
ana luísa
Para que conste aqui houve equívoco. realmente a Celeste costumava publicar com o nome de "omarpareceazeite". agora multiplicaram-se e não me apercebi. fica na mesma o agradecimento mas agora a quem de direito o José Almeida.
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