segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
O poeta ausente o poema ao lado
Pintura a pastel de José Ferreira
Dissecar. Abrir o poema.
Os versos despidos.
O autor presente.
A procura de caminhos da Nascente
entre fragas e salgueiros, a água
corrente, degelo estalado, caldo
e as gotas do orvalho no acordar
da manhã, estremunhado.
O poeta ao lado.
As letras, metáforas, suspensão
parada de segundos e de novo
vários eles descendo a encosta,
passando junto à casa de tábuas
sem portas; a escada por fora
janelas na entrada.
Alguém diz: - São mais bonitos
os cadernos, as argolas mais
a jeito. Não há quadriculado.
Brancas as folhas, os poetas.
Lembram-se: A Tabacaria.
O poema ao lado.
Aliviado. O poeta diz:"- Não é
costume desmontá-lo." Mas tenta-se,
desfia-se, desaperta o cordão
assenta as emendas nas linhas,
"âncora",alisa a renda, caricia
o bordado.
O poeta revelado.
Aguém se acomoda, foge a cadeira,
o guizo dos ruídos interrompe o
juízo. A sala é de ideias régias
a mesa oval, na pintura da parede
desvela-se um pedaço de tela,
a falha no óleo granizado.
E o poeta alheado.
Olha para o chão, escuta, procura,
a ínfima partícula, a premonição:
não ter usado a palavra certa;
a estrofe manca, a ideia fraca,
as reticências, um ponto final.
A vela acesa.
Não é távola nem redonda, mas há quem mande.
Não há malhas, nem elmos, nem espadas.Os
cadernos, as canetas, nas mãos ao lado
e os espaços brancos das palavras moças.
Dez mais dez
ouvidos pendurados, no elevador dos guardanapos;
sobem e descem nos lábios dos versos,
à mesa dos poetas.
E ele ausente.
Guardando um pouco o segredo,
da musa e da semente!
José Ferreira
27 Novembro 2008
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3 comentários:
José, se a mensagem "postada" tiver algum erro faça o favor de corrigir. Achei que devia voltar a escrever o texto do seu poema que acompanha a sua imagem. Reli os versos, gostei muito. E da imagem também. Também é poesia!
Elza agradeço-te imenso este teu gesto tão querido. também gostei muito que lhe juntasses o poema pois os dois foram um ao nascer, um de noite (o poema) outro de dia (a pintura).
Bjos.
Até logo
Jose, que beleza de poema! parabens! (:
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