segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Adeus

Partiu o comboio
Vi-o dançar no trilho
Despenteado
As árvores ao lado
Caindo as folhas
Como em mim

O comboio desapareceu
E as árvores ali despidas
Como eu

Em pé
Eu na estação
E a solidão
E eu nua de ti

Comboios partem, comboios vão
E o sentimento cresce lentamente
Um resto um sedimento
Comboios chegam
E eu na estação

O vento varre os medos dos outros
Eu sou transparente
Fico ali
Como tronco de árvore
Despida de ti

A Primavera há de vestir
As árvores de todas as flores
Mas eu sem nada
Ali na estação
Sei que há comboios que vêm e que vão
Mas é certa esta dor
E eu já não te visto, nem te tenho visto
Nem Outono, nem Inverno, nem Verão
Visto sempre e só a solidão
E a longa certeza dos dias compridos

2 comentários:

Elza disse...

Depois de muito andar às voltas com o meu poema "mutilado" na praça da poesia, decidi-me a publicá-lo assim. Foram-se o "no meu peito", "o longo Outono", "eu nua sem ti", "um dia", "coração" e até a epígrafe "a medo vivo, a medo escrevo e falo" pois nem essa encaixa nos meus versos. Mesmo assim reli-o vezes sem conta e sei que não está como quero que esteja, talvez o deixe em banho-Maria um tempo, e quem sabe o comboio regresse e me inspire a melhorar o poema. Outras passagens, mesmo com as vossas sábias sugestões, deixei-as como estavam. Consola-me ler Miguel Torga que dizia, numa antologia, a propósito da correcção de alguns dos seus versos: "Quando tentei pô-lo em prática, apenas duas ou três composições consentiram de bom grado em alguns retoques. As restantes negaram-se terminantemente à mais leve remodelação (...) O que estava feito, estava feito, quer fosse aceitável, quer não. O escorreito e o monstruoso igualmente intocáveis." Ora claro está que o monstruoso de Torga é discutivel e longe de mim querer comparar-me a tal poeta, mas não deixa de ser interessante saber disto. Assim, aqui fica o meu comboio, cheio de ferrugem nos trilhos, as árvores despidas ao lado, mas eu ainda com vontade de melhorar a minha escrita. Obrigada a todos pelas sugestões e Ana Luisa pelos ensinamentos que cá ficam sem serem esquecidos:)

josé ferreira disse...

Elza a primeira estrofe está lindíssima, sente-se os cabelos de fumo encostados às folhas que em matizes alcançam o chão. O poema ganhou harmonia e apesar da mensagem triste ficam as àrvores que serão vestidas de flores e os dias que para que não termine o que haverá de bom neles não podem ser medidos ficam para sempre.
Parabéns
Bjos.