domingo, 12 de outubro de 2008

Música

Essa torrente de som que me esmaga ressuscita, inspira
Me faz voar para sítios longe e dentro
Experimento as dores longínquas de quem canta
E respiro as notas soltas na libertação desmontada dos sentidos
Esse rio de desejo que se esconde na expiração
Terrena de suspiro
Danço no tom sem saber as derivações
Do teu amor nas equações refeitas de saudade
Na verdade com que ouço a etérea frequência
Que me estremece o cérebro e a demência embotada do amor
Esse falso profeta, mentiroso compulsivo de promessa
A meta falsa da expectativa inesperada
O simples presente da musica
A simples realidade dos sons invisíveis
Da transparente onda que me atravessa
Sem pressa neste deleite encorpado do meu i-pod
Tirem-me as cordas das mãos da sociedade do prazer
Esse ladrão de impulsos
Na desagregação em escada do sentir
Esse poço de cor, um corrimão de emoções
Dêem-me música e beijos
Sem pão nem água
Só pele e osso
Sons e notas
A voz quente e a batida de fora que se confunde
Dentro com a minha máquina de sons
Essa bomba no peito
Que injecta sangue em som e transforma ar em vida
E vida em marcha
E marcha em abraço
E abraço em palavra
E palavra em sopro
Sopro em flor
Flor em beijo
Beijo em perfume
Perfume em chama
Chama em poema
Poema em amor
Amor em gesto
Gesto em luta
Luta em sangue
Até começar tudo de novo
Sangue em som
Som em ar
Ar em vida.
O coração.

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