domingo, 12 de outubro de 2008

Desenfurece-me os sentidos

Desenfurece-me os sentidos
Desfaz o meu tempo no teu tempo´
Nessa corda de beleza que nos desune num nó
Entrelaçados no som que nos prende
No ritmo alucinante dos sentidos
Todo o tempo não é tempo
Toda a hora não é hora sem ti
Fujo da paragem súbita do tempo
Neste modo de não ser
A apatia fugidia da dúvida
Essa ladra de verdades
Na indecisão dos desencontros
Das assimetrias cruas que nos esfaqueiam as expectativas
As despedidas forçadas
As horas roubadas no desejo em catadupa
Se não soubesse sabia
Sabia mas não queria saber
Via mas não queira ver
Nessa cegueira ao contrário
Nesse muro desconexo do teu olhar
Só pensar, só fugir
Num murmúrio lento, quase eterno
Quase terno, doce
Desencontrado do amor
Foge-me de ti o sentir
Sente-te a fuga vazia
O começar ao partir
Terminar sem lá ir
Já nada querer ou nada esperar
No cansaço melancólico da dor
Essa forma disforme
Que vai e vem
Lacera, lacera, lacera
Lentamente, lentamente
Uma dor lenta, lenta, lenta
Forte, forte, forte
Fundo, fundo, fundo
DOR
Escadas, cor, luz, fuga, sonho, drama
Essa comédia encoberta da indecisão
Do acaso, do caos, da sorte
A vida que há na morte
A descorrer os ciclos
Tudo o que não sabemos
A finitude , rude , lenta
Bela, única, nua, crua
Dura
A dura finitude que nos abraça
Abraça-me
Abraça-me
A fragilidade física dos corpos
A psicologia invertida esculpida
Despida de cor
Tenho as respostas dobradas na língua
Engulo as respostas dobradas e trinco-as
Minto-as
Finjo-as
Procuro-as no tempo, no espaço, no teu retrato
Nos ponteiros estagnados
Nas lágrimas paradas
Sem, sem, sem
Nadas e nadas e nadas.
Tens tudo em ti.

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