Exorcismo ao pasteleiro do século XXI
“A felicidade consiste em querer ser-se o que se é”
Erasmo de Roterdão: O Elogio da Loucura
I.
Elas dormem de mãos dadas em Minamara
As duas gémeas
Com as suas cabecitas encostaditas,
Como duas lobas com toda a fertilidade
As duas meninas ainda sem mamas
São mais braços e pernas entrelaçadas que outra coisa
Num labirinto pouco geométrico mas muito quente
uma respiração única
A febre causa-lhes um único sonho delirante:
Por toda a cidade estão a enforcar girafas no cimo das gruas.
Por todo o lado há girafas mortas amarradas no cimo das gruas
Às vezes cavalos brancos também são enforcados
As duas gémeas continuam abraçadas
Agora com uma respiração mais rápida e ofegante
As duas meninas são já uma só coisa…
O vento atira-lhes areia para a cara.
II.
Sai droga do olho de Maria
Jesus partiu-se ao meio e tinha cocaína dentro,
Os carneiros e os bois também se partiram em bocados…
A porcelana está mais assustadora
Maria injecta o caldo na veia…
III.
Não há droga no bairro chic
Hoje vais ter que injectar vinagre chic…
IV.
Poderoso vidente trabalha amarrações fortíssimas
Precisa-se cortador/a para trabalhar no talho
Dinheiro: empresto na hora sobre o seu carro e também sobre casas
Tel: XXXXXXXXXXX
Um crucifixo fluorescente e extremamente triste cumpre a sua missão
O pescador contínua sem aparecer,
os pescadores nunca aparecem
Nuno Brito 2008
1 comentário:
um poema muito forte, Nuno! continue!
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