quinta-feira, 29 de março de 2012
Isto tudo que nos rodeia (I) - Cartas de Mécia Sena/Jorge Sena
John William Waterhouse "Ophelia" 1889
Querida Mécia (28/11/46)
De manhã andei na obra. Almocei. Depois chegou o correio: um postal da Mãe, outro do Óscar, e provas do Pessoa. Até às 4 e meia, vi , e empacotei para as devolver, 80 páginas do Pessoa, e escrevi-te, ao Óscar, à Manuela Porto, ao Salgueiro (da Inquérito) e à Mãe. Fui ao túnel, andei por lá. Vim para o quarto repousar, ler um pouco: Shaw, E, à luz da vela, porque a electricidade foi-se mais uma vez, aqui estou a escrever-te com vagar.
Como já disse não recebi notícias tuas, que se calhar mandaste para Évora …
(…)
Acaba de regressar subitamente a luz, não sei por quanto tempo – (agora está a apagar e a acender) – (…) Apaga , acende, apaga, acende, que nem as velas se poupam, nem as velas servem (até esta frase parece um final de poema – hein? – um princípio de outro vem à cabeça do papel desta carta, mas não passou daí, em verso, e continuou-se por aqui fora como estás vendo).
(…)
São sete e meia, estou cansado, muito, muito cansado. Até amanhã, querida.
Jorge de Sena
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