quinta-feira, 29 de março de 2012

Era o sol uma sombra

Rasgo de sol enquadrado na árvore como o amor na pele
Triângulo isósceles de indefinições que cresce e morde
A seda de um beijo, a sede da doçura de tudo o que foi.
É tarde e o sol não fica, talvez já não volte a nascer.
A incerteza da luz gravada na clorofila do rosto comove.
Será o coração a raiz? Mente ancorada a corpo incerto.
Não.
A raiz é o cerne neuronal do pensamento que acende os olhos.
O coração não se arranca nem dá fruto.
É só um músculo liso, autómato e acéfalo.
O miocárdio não pensa tão cheio de sangue.
Um punho fechado de células síncronas
Um sol ao contrário, que apaga e sorve luz.
O coração arranca-se. Quando é preciso.
Entra o sol e os neurónios continuam vivos e ternos
Sem a saudade melancólica do beijo.
A raíz é o corpo ser inteiro.
Ser inteiro em si na incompletude da dor.
A inteireza de se saber ser quem se é e faz.
A luz nas folhas verdes de uma árvore direita.
Inteira.

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