quinta-feira, 11 de agosto de 2011
jazz na chegada da cidade
fotografia retirada da internet
jazz no aeroporto. três elementos.
as rodas de silêncio pousaram lentas
no preenchimento de um espaço vazio; malas e homens
malas e mulheres nas medidas certas da cabine;
low-cost dizem. concerteza há lugar na dimensão reduzida
a t-shirts, pólos, calções de banho,
curtos ou de perna comprida, mais modernos
billabong, deeply ou quick silver
ou então copas de seios onde as seivas dos meninos
triumph, women's secret, intimissi
e as camisas de renda, os tecidos da índia, os bikinis
e alguma toilette de intimidade feminina.
após uma hora, na esquina Formosa
um tocador de olhos de névoa
abre a voz da concertina.
uma melodia aberta,popular e divertida.
o tocador não vê a intensidade das pernas, a qualidade dos decotes
a luminosidade dos sorrisos, a inclinação do meio dia.
o tocador tem todas as imagens no poder dos sentidos
sente dois que passam mas não apercebe os gémeos
não vê o piquet dos tecidos, a imobilidade dos crocodilos
nem mesmo os óculos escuros
de uma filha dos fiordes, a cor dos olhos que se adivinha
azul, sim, azul, outra cor é impossível, pelo ruivo das sardas
pela cor branca das axilas.
o tocador solta a música sentado na cadeirinha
e acompanha o ritmo com o ponteiro da cabeça,
marca o tempo de forma idêntica como alguém que dança
que eleva os braços, que estreita a dançarina
antevê-se no levantar dos lábios
enquanto as notas rodeiam as ancas de quem passa.
mais abaixo, na livraria, pousa-se o fascínio das memórias
na ansiedade dos poemas, o desenho das letras, a cor das tintas
na mão que escreve e liberta
o osso maciço do corpo, a fantasia acesa, as asas de borboleta.
ocorreram milhares de vinte quatro horas, a imensidão dos minutos,
passaram anos
e um dia definiste de forma precisa, o tamanho das pálpebras, as rugas
e os seus sulcos mais profundos, para além do visível, do habitual sorriso.
sob a luz de um foco de cinema surgiu óbvia a actualidade escura
o filme antigo, a poeira das feridas
para além das veias largas, guerreiras, destemidas
onde as enfermeiras colocam as agulhas, elogiando a facilidade vermelha
do grupo sanguíneo, o seu comportamento amplo e compatível
rubro e rápido, um mar vivo -
sabes, como um cego sonho, preciso da música e da liberdade dos sentidos
da premonição do risco, o arame, a falta de equilíbrio
a tontura da queda sem a submissão de linhas
a hipnose, o pêndulo
a inexistência de gravidade nos dedos dos dias
a inconsciência aos gritos
e bagos de uva rolando pelas ruas
em madrugadas sucessivas -
José Ferreira 11 Agosto 2011
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