terça-feira, 14 de junho de 2011
a propósito da chuva (um poema republicado)
fotografia de um filme de Godard
......................................"o eu é um movimento na multidão
.........................................................Henri Michaux
o prédio no meio dos outros prédios
tem paredes tem alicerces
mas não tem braços.
por vezes assim a noite
de um lado e de outro lado
os ombros férreos apertados.
o prédio no meio dos outros prédios
tem janelas e uma porta clara iluminada
- nas costas o tijolo cego
de costas um outro prédio.
por vezes assim são os lugares do medo
cintilantes na claridade frontal
sombras de cera e chama ténue
no interior de um quarto vasto.
o prédio no meio dos outros prédios
quando chove conduz as águas nas telhas
para o espaço contínuo de um pequeno rio
- é esse o objectivo
que as águas se juntem se tornem maciças
no som no ritmo na procura dos caminhos.
por vezes assim é o pensamento
que acrescenta esta e aquela sequência
e a consequência de um sentido uma linha
feita de asfalto granito ou terra batida.
há uma mão gigante atrás de cada indivíduo
recolhendo a linha como um fio
enrola enrola agarra o novelo
como um muro sem porta
aponta o caminho em frente sem reverso
- não há regresso continua!
o prédio no meio de outros prédios
pode ganhar braços como as árvores
arrancar raízes no orgulho de ter pernas
abrir janelas e andar pelo meio das ruas
dos carros autocarros e bicicletas
até encontrar um parque, muitas árvores
desfolhar cortinas –
por vezes assim são os quadros os poemas a escrita
a revolta de um grito -
José Ferreira 30 Abril 2010
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1 comentário:
O prédio, estanque, inerte, no meio do asfalto, da cidade... afinal pode ganhar braços! E a àgua da chuva pode traçar caminhos. Que bom saber que é assim, pelo menos na poesia.
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