terça-feira, 18 de janeiro de 2011

são muitos os poemas que começam por Sabes


Edward Weston




são muitos os poemas que começam por Sabes
num diálogo de inexistência, transcendentes de reflexividade
como se ali em frente ou caminhando, lado a lado.
são muitos os poemas que começam por Sabes
como letras desenhadas numa carta, um diálogo imperfeito
pois o corpo, o rosto, a linguagem dos lábios, uma mão suave
um recontar de linhas, uma sede de palmas
abertas, fechadas, sobre os dedos, por vezes apertadas
tão apertadas, como se únicas, ligadas.

são muitos os poemas que começam por Sabes
sem resposta, falando das árvores, sobre as folhas
o verde das folhas, sobre as raízes nos lugares de plâncton
sobre as raízes nos lugares de tudo, nos céus de nada
são muitos, sobre as aves de braços espetados como setas
uma de cada lado, setas de ponta quebrada
altas, sobre um mar oceânico, sem barcos, sem âncoras
livres, tão livres quanto as palavras.

são muitos os poemas que começam por Sabes
querendo adivinhar se usas um lenço azul, uma trança de lado
um Ipod, um moleskine, um diário personalizado
registando esse desviar de ponteiros, o seguir em frente
um tempo sem muito tempo para o importante, o quotidiano
como um marco do correio, recebendo, as minhas
as tuas, as minhas, as tuas cartas.

são muitos os poemas que começam por Sabes
nas ruas, nas salas, nos silêncios do quarto, um ruído abstracto
dentro, um terramoto sem escala, um aperto, último instante
em que coloco a folha, observo-a, a finalidade, a sua dança
a sua música, breve ou larga, um sopro, doce, aliciante
um rio, tocando as margens, perceptíveis como as borboletas
silenciosas, ar e águas, sem barragens.

são muitos os poemas que começam por Sabes
e não sei, não sei se os agarras, nem como os guardas
mas prometo, prometo, escrever sempre, sempre, difíceis, fáceis
na metáfora, de múltiplas formas, rimas, externas, internas
multiplicadas de mil lados, como os dias
as horas, a mudança branca e escura dos modos, noites
de noites, onde planam as ausências e os mistérios
um manto brilhante de estrelas, uma seda acesa
células de uma pele imensa onde circula o sangue
e as marcas dos versos nos lábios dos poemas -


Sabes -


José Ferreira 18 Jan 2010

1 comentário:

candida disse...

sabes, não sabes, que eu não sei?

o poema é bom.
:)