quinta-feira, 11 de novembro de 2010
não sei como falar-te nos dias intermédios
Alfred Sisquella "Ao levantar-se" 1942
não sei como falar-te nos dias intermédios.
sobre um leito de nuvens, o sol, amarelo, deitado.
sobre a rua a luz branca e o movimento
a cidade cinzenta, e no entanto a ameaça
de um fogo incidente, que não se vê
que não sucede, que não se mexe
permanece no silêncio, como um espírito
que se sente e não diz quando.
não sei como falar-te na voz dos pássaros
aqueles trinados de folha em folha, de ramo em ramo
como naquela tarde mais segura, vinda de dentro
qual marioneta sem saberes de pensamento
seguindo uma mão de sol, um braço sem relento
um rosto onde os cantos dos lábios
bem sabes, como a lua, um berço crescente
balouçando o mar ao som de uma ária ;
uma harpa, um violoncelo, um piano -
não sei como de novo falar-te, prometer
um rio de ouro em grito lancinante, sem medo
um gomo húmido e tangente, 50 000 estrelas
uma nuvem sem tempo, sem pressa, sem ausência -
tudo depende desse lugar que sempre mostra
sem possibilidade de ordem, a fantasia e a pedra
a filosofia e a fome,o icebergue e o fogo
o Id sem ego -
não sei como falar-te, não sei como dizer-te
apenas sei que nos dias intermédios, me lembro
e não sei se me conheço -
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