sexta-feira, 1 de outubro de 2010

não se espera a caravela


Salvado Dali " A descoberta da América "


no lugar mais afastado do cais não se espera a caravela
aquela que se aproxima abrindo do fundo
uma terra, perto do início do mar
em ruído extenso, progressivo, súbito
claro, determinado.

à sua volta criam espaço os animais
dos mais pequenos aos voadores
mensageiros seguros de mudanças, o tempo
mais temperado menos arrefecido.

decidida a caravela abrindo a terra
de onde saem as mãos que salvam os desprevenidos
elegem os eleitos, admoestam os empedernidos
e lançam a descoberta
a alucinação:

um manto branco o percurso de sedas
por águas e névoas de omissos orientes
caminhos únicos, fixos no tempo como os paraísos
únicos, como as lágrimas que sendo têm sempre razão

a caravela poderosa, firme, para nos arrancar de dentro o sal
a flor caída, a omissão, o amor desconhecido
em submissa entrega líquida, percentagem
em pequenas gotas, lentamente como um rio seco e a nascente –

quando chega a caravela traz uma ilha agarrada
e a cruz inchada de vento, orgulhosa e segura.
força máxima de velas, os nós de avanço

e o tudo antes perde mesmo a realidade
e a caravela avança –

1 comentário:

João A. Quadrado disse...

[foram-se os mares, ficaram as nossos eternos tabuados das caravelas]

um imenso abraço,

Leonardo B.