terça-feira, 7 de setembro de 2010

rememorar


Miró " Amanhecer perfumado por um duche de ouro" 1954

Não são as mesmas as mesmas
As estrelas avulsas as estrelas
As constelações
As constelações
Depois de rememorar rememorar rememorar
O amanhecer lento e branco.
As primeiras gotas de orvalho.
Há quanto tempo. Há quanto tempo.

Em anteriores e interiores horas
A paisagem de tonalidade parda
Os restos cortados de cereais
Um largo horizonte no sul da auto-estrada
Árvores pousadas árvores pousadas
Presentes presentes a espaços a espaços
Passado passado.

A corda tracejada de branco
O sólido breu a esconder quilómetros
Afastando a lonjura de um mar salgado
Que não encontra a forma de ser leve
- a suspensa bóia de risca encarnada.

Perpassa a memória
A existência de uma tarde longínqua
Um jardim maior de flores fúcsia
Alguns arbustos e dois cedros incisivos
Esguios e aguçados como setas
Densos como o cérebro dos poetas
Que falam da condição universal dos afectos
A humana lágrima sensível.

Não são os mesmos
Os desejos e as estrelas
Que vigiam a noite
Não são os mesmos

Amanhece a sombra nos espelhos
De abraços desfeitos na fogueira de um delírio -

2 comentários:

Anabela Brasinha disse...

Olá José

Gostei muito dos dois derradeiros versos. Sozinhos, são eles todo um poema.

Nunca mais é Outubro.

Um abraço

josé ferreira disse...

Olá Anabela

Obrigado! já falta pouco para Outubro! o mar resiste!

Abraço