sexta-feira, 2 de julho de 2010

Uma casa para a apostasia




Não tenho uma só casa para a apostasia.
O meu afastamento não permite limites
perfeitos
nem pegadas que indiquem qualquer acontecimento
impreterível
e, no entanto, eu já passei por ali,
já fiz com que o espaço se dilatasse para que eu pudesse
passar por ali
com o meu tempo excessivo e retraído
mas nem uma morada ficou para contar,
nem uma pensão, nem um mote de hotel de estrada ou de esquina
nem a derme crucial de um banco de jardim
todo voltado para a descrição ofegante da paisagem.

Nem a morte me deixou lá dormir
quando soube da forma como eu
desacreditava

e como era necrodinâmica
a minha vida.

2 comentários:

josé ferreira disse...

André um poema muito interessante de abandono de lugares, o dia que segue o outro dia, a presença dos locais e o seu afastamento "uma vida necrodinâmica" usando a ironia "Nem a morte me deixou lá dormir" e "nem uma morada ficou por contar" - o que clarifica a importância do passado e a procura de um lugar certo.

raquel patriarca disse...

eu adorei