sexta-feira, 2 de julho de 2010

fenda original

de um chão imenso interno
a um quarto branco sem sombra
escolho um ponto igual

dou um passo

o tempo quer dobrar-se entre nós
e escorre-me pelo corpo em algas macias
o espaço quer expandir devagar
para entrar distraído na minha velocidade

e mesmo que se prenda ali na metade
da metade da metade do que já percorri

chego lá

escolho o passo
como o fotão escolheu a fenda
para te seduzir

mas ele precisou que o tocasses primeiro
e eu não quero colapsar o mundo
à probabilidade de uma fenda

quero um passo lento
e o gozo de o escolher
bem aberto

escolho-o livre assim
para te chegar
mas ele repete
repete todos os outros

até ao passo original

1 comentário:

josé ferreira disse...

Joana um poema introspectivo do qual gostei muito "o espaço quer expandir devagar para entrar distraído na minha velocidade"
"e mesmo que se prenda ali na metade
da metade da metade que já percorri"
um passo de um chão interior que se interroga dentro e volta ao ponto de partida mas que surge como um retorno mais seguro e mais decidido.