quarta-feira, 26 de maio de 2010
maio de 99 - a lua descida
levanta o braço de uma boneca bela de porcelana.
penteia imaginárias pestanas de olhos grandes.
torna oblíquo o cabelo lustroso e castanho.
tem uma estrela tatuada na testa.
dobra o joelho e passeia a passadeira
incontornável de vermelho.
maio de noventa e nove. noite. quarta – feira.
na casa de aldeia
desfia-se um terço de água benta, um rosário
contas pretas de novena e brancas de marfim
na origem de moçambique, longínqua.
brilha no canto de uma quina aguda
uma barriga grande de cobre: alambique
dádiva de um tio emigrado na Turquia.
dentro da cabeça de Madalena
apressam-se os fios sobre a boneca
pernas da marionete passam em rodopio
por muitos lugares escondidos
enquanto prossegue a melodia, a rotina.
vem ali o rinoceronte.
naquele lago há um crocodilo.
a zebra é um cavalo de listras.
o elefante sacode uma tromba de gritos.
o urso é amigo.
mãe? se houvesse uma entrada secreta
um nó de tábua que saísse
a minha boneca podia ser Alice.
( a mãe na ladainha)
mãe? se voasse num tapete mágico
até ao minarete arábico de lua descida
podia ser Jasmine.
(riu-se o alambique)
mãe? se tivesse os sapatos de morango
voava eternamente depois da grande ventania
olhava as nuvens de cima
tocava o arco- íris.
dobrava o joelho e passeava a passadeira
incontornável de vermelho.
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