terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Cessa
Jesús Alonso "sem título" 2000
Na árvore única uma folha esguia.
Porque resiste assim facetada, larga
Em contraste de ramos definidos,
Nus e finos, plácidos, esquiços,
Postados no meio de uma planície
De fundo impreciso, branco, vítreo?
A folha única permanece íntima
No carvão carregado de uma mão
fechada que liga ao braço, aguarda.
Só cessa na próxima folha, a primeira
Que desabotoa, abre e emerge
lenta; não baça, não seca, de seiva.
Uma chuva tracejada, monótona
No meio da folha mínima
Na árvore quieta,
Um pequeno mar de água na terra cinzenta.
Única e aberta a janela de guilhotina
Sobre a mais difusa planície
Que acentua a única árvore
A única folha.
Ouço ainda, ainda
Uma chuva lenta de morrinha.
Cessa -
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4 comentários:
Olá José, gostei do poema,
a chuva,
a folha,
cessa,
outra vez chove,
outra folha,
cessa,
o descontínuo não ser mais que o que varia num contínuo.
Há dois dias um amigo contava-me o que estava a escrever, dizia que escrevia uma história sobre mudança, e mesmo que não a tenha ainda terminado, como me disse que era para crianças, terá um final feliz numa história sem versos, ou com versos já que cada vez que cessa se permite continuar até um fim.
Quando me der a ler a história não será só a criança a ler, essa que não perco, que encontra versos na prosa e na prosa versos.
Estão muito bonito. Fiquei com a sensação da dificuldade da precisão da chuva tracejada (cessa-não-cessa) numa única folha de uma única árvore numa planície branca. E a linha da folha, ligada intimamente ao 'ramo negro' (de Pound?) como dedos de uma mão a um braço, que só cessa na outra folha. Concordo, Anabela, o poema está a chover! Está bem bonito.
Olá joana, dizes, como dedos de uma mão a um braço que só cessa na outra folha, encontro diversos contínuos nessas belas palavras, espero que não te importes que continue a frase,
enquanto não cessa uma angustia que deixa que de novo se una corpo e folha,
Fiquem bem.
Joana não me lembrei de Pound, mas é possível que estivesse inscrito no subconsciente. o teu verso também gostei "como dedos de uma mão a um braço que só cessa na outra folha".
Anabela em relação ao livro do teu
amigo, que espero que fique óptimo, acho que realmente por mais descontínuas que as histórias sejam as crianças precisam sempre de um final feliz.
Abraço
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