terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Aviso (poema de Sylvia Beirute)
AVISO
se tiver sintomas de poema, aguente,
não resgate o orgulho, guarde, quando falar
com os outros, uma distância
de, pelo menos, um metro,
fique em casa, não vá trabalhar, esqueça
rotinas graves, monólogos de rupturas,
a periferia de uma lição integral de intimidade,
não consulte o oráculo, des-
frequente-se a si mesmo, não vá à escola, evite
locais muito populosos e com densidades intrínsecas,
evite cumprimentar com abraços,
beijos, apertos de mão.
se tiver sintomas de poema, apenas informe
o silêncio, que ele saberá o que fazer:
esperará que o poema levante a cabeça
e o decapitará. sem uma palavra.
Sylvia Beirute
inédito
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2 comentários:
Imagem deliciosa esta de 'sintomas de poema' que tão bem sei o que é (apesar de há já tanto tempo não escrever). Gostei do poema a sair cá para fora, decapitado! Parabéns e bem vinda Sylvia
Olá Sylvia e tão bem que acho esta cura para doenças de "sintomas de poema" nomeadamente na urgência de "apenas informar o silêncio" e de seguida soltar a guilhotina.
Ainda bem que continua a publicar.
Abraço
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