Recebi as flores, meu amor
Entra no quarto sem bater
E não admires a figura pálida...
Beija os lábios de vermelho
Entra, meu amor
Não receies
E se te parecem mortos os meus olhos, não os feches
Desenha neles o olhar de Olympia
Não vejas o castrado que ali jaz
O sangue seria menos vivo
Imagina a virgem agora mulher
E adorna-me de oiro e uma flor
Teu mais não serei
(Ana Janeiro)
2 comentários:
Ana, achei bem interessante a presença destes dois registos tão diferentes: um, mais lírico, o outro, humorístico, cínico, surrealista em certos momentos, servido pela rima e pela métrica. Muito bem.
ana luísa
Ana estou outra vez um pouco baralhado. neste poema as palavras soam-me femininas e a minha leitura do "sente quem lê" traz-me esta imagem: sempre a voz de uma mulher até à voz final do suposto amor hesitante no convite, na porta do quarto, que completa com "teu mais não serei". portanto eu acrescentaria as aspas para colocar o acentuar do masculino, os dois registos.
gostei da envolvência dos versos como um sopro encantatório "entra" "não receies"
"não os feches" "desenha neles""adorna-me de oiro e uma flor"( o feminino ) e o corte radical "teu mais não serei" ( o masculino). mais uma vez original. parabéns.
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