terça-feira, 29 de setembro de 2009
O irreprimível delírio
O irreprimível delírio na forma de um sorriso
as flores diversas, jarros,lírios,fetos
de pés molhados na jarra de cristal junto ao piano.
A melodia muda ecoa a sala onde se guardam as pinturas
iluminuras de pequenas surpresas, pormenores escondidos
de aguarelas e óleos.
Escuta-se um mar de silêncios nas cordas surdas e clássicas
de uma "Alhambra" que observa de rosácea aberta o rosto
o olhar direito, os pés cruzados, os braços como réguas
que seguram os outros braços de veludo canelado.
Nos pulsos oscilam as mãos como borboletas presas
nos ritmos inéditos de uma sinfonia incompleta.
Sem ondas, sem espumas o desenho de um gato e uma menina
de António Carneiro, não original, mais pequeno, um pastel
mesmo assim pessoal e autêntico. Ao lado um barco sem remos
ao sabor do rio, sem qualquer fio humano, difuso, sem ruído
no poder imenso da imagem que a cada um se autoriza
de preencher nas margens da nostalgia, a sua nostalgia
em desenhos que surgem e se apagam na poeira dos dias
os dias que sucedem de outros dias
na interminável viagem
do irreprimível delírio.
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4 comentários:
Gostei do texto, gosto da forma como traduz a imobilidade, um verdadeiro delírio que não poderia deixar de estar reflexo na envolvência.
Não é natural a imobilidade, o humano é natureza, e no entanto, se ela é refúgio, também é o não saber como ter esperança. É mais que medo o só poder a sobrevivência, um modo de sentir a falta que de qualquer esperança se esvazia.
Obrigado Anabela. Por vezes para mim imobilidade é parar por fora e o mexer muito mais por dentro. Por isso o refúgio é delírio de pensamento inquieto, uma torrrente que acalma
ao observar aquelas coisas paradas
que se ligam noutras, que remam a um
mar já navegado e que se refazem de quotidianos esquecidos, de naturezas
redescobertas, paraísos ou tormentas reinventados. E tudo passa em pouco tempo, à minha frente imóvel e sentado. Depois a vida corre e levo comigo um papel dobrado onde risco o momento e o embalo da interminável viagem, do irreprimível delírio.
Fui lendo o poema e senti-me transportada para o espaço de um qualquer quotidiano que não é o meu... delírio? não! ouvi mesmo essa melodia que ecoa, ainda, na minha sala.
Um abraço, José.
(vou frequentar a oficina de escrita em novembro. vêmo-nos?)
Olá Auxília! Transmitir sentimentos, ecos, melodias, ambientes é sempre um objectivo de quem escreve. Se o consegui fico feliz. Quanto a Novembro a oficina de escrita parece uma boa ideia. No entanto certeza é que nos tornamos a ver nessa altura com ou sem participação.
Abraço
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