Kandinsky, Fuga 1914
Viagem
Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro.
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar...
(Só nos é concedida
Esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)
Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura,
O que importa é partir, não é chegar.
Miguel Torga
4 comentários:
Adorei. Obrigada!
eu gostei muito também,
Ángeles
Gosto do modo como Torga nos desinstala e sempre nos incita a "renascer". É um dos seus poemas que sempre selecciono para os "meus meninos" e que incluo nos documentos que para eles vou produzindo.
"(...)
Temos a primavera na lembrança;
Temos calor no corpo entorpecido;
Vamos! Depressa!
A vida recomeça!
A seiva acorda, nada está perdido!"
Miguel Torga, in "Antologia Poética"
Obrigada por mos (Torga e os seus versos) relembrar. Beijo.
Olá Auxília
Tanta sorte de quem é ensinado assim. Miguel Torga crava-nos o olhar rugoso e profundo e na voz cristalina dos poemas coloca-nos a bússola nas mãos,
acerta-nos o leme, reajusta a vida humana na leitura atenta da Natureza em que nada nunca se perde e tudo se transforma.
Obrigado pelos versos que aqui também me deixou.
Bjo.
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