por escrito. Essas palavras são lenha verde acabada
de apanhar nas florestas onde vive o frio como chagas
em carne viva. São só dor sem bálsamo para curar as chagas.
Não curam de iluminar os sentidos todos acesos – a sombra
das árvores nem sempre é balsâmica. Há longos lugares onde
a luz é corredor de morte e as palavras sobram no silêncio
entre a dor e a dor seguinte quase sem intervalo. E as palavras
são pedintes suplicando um prazer efémero passando pela boca
como um gelado chinês quente e frio. É só na boca o prazer do frio
e do quente que transborda do gelado. A verdade é uma amálgama
que se transforma num todo interior. A verdade nunca é o todo
exterior. A verdade é a sombra da luz que vem de dentro. Tu dizes
e as palavras – a verdade – soam no universo vertendo a realidade
de que tu és capaz. Mas porque não conseguiram aquecer-me
as tuas palavras escritas, quero dizer, não verteram a realidade,
não havia nelas sequer a sombra da luz. Nem as palavras
que transcreveste de uma outra luz soaram à verdade das tuas. Não
as iluminaram. Nem sempre luzes entrelaçadas fazem clara a luz.
Nas palavras quase sempre convergem para uma noite sem estrelas
a não ser que sejam coadas ao sol num vitral de catedral românica
ou gótica onde é sombra iluminada o silêncio surgindo de dentro de ti.
As lágrimas que vejo nos olhos face a face com a morte da inocência
trazida pela luz mortífera de rockets e de obuses sedentos de uns tantos
quilómetros quadrados de terra e de ideologia! Este poder avassalador
da alegria e da liberdade não é luz de aquecer os homens nem o Amor.
E se fizesses explodir o papel pragmático que não vislumbras aos deuses?
Talvez pudesses accionar a força de paz que te é congénita – sem
[palavras.
2009.01.09
José Almeida da Silva
2009.01.09
José Almeida da Silva
1 comentário:
José gostei muito deste poema, onde se estabelece este discurso sempre rico e emocionalmente forte que desagua numa verdade "congénita" de duplo sentido: essa paz no ser humano que devia ser extensível à não necessidade de uma brutal crueldade de uma guerra que nos fere a vista e nos esmaga a alma.
Obrigado e até breve.
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