quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Fuga Silenciosa

Pela noite além,
eu , só, vagueio
em um lento e lasso vaguear,
para em silêncio escapar
a este longo e vasto
inferno de mágoas!...

O sono me não cerca
nesta noite sem luar,
que só me dá para errar,
sempre, sempre... sem parar.
Não se me dá p'ra cuidar...

E sigo sem um alento,
pois que sem tal sofrimento
coragem não hei p'ra viver...

Só um vago pensamento
em mim há muito existe...
Não se me dá p'ra parar
e muito menos p'ra recuar!

Só cansaço em mim há
mas persigo caminho além,
só, pela noite agreste,
só, sem mais ninguém,
sem esperança já de salvamento,
sem poder agora, enfim,
para sempre só esquecer
este tormentoso tormento!...

Só vontade hei de seguir,
que um nada me fará desistir.
O caminho é longo, sem fim,
sem paragens,
sem obstáculos quaisquer!...

Mas forte fadiga me invade,
que em pé me não seguro!...

E não me foi dado que um fim desse
a meu inconcebível sonhar,
não consegui a liberdade
que dela hei tanta saudade!

...Mas mais uma vez entendi
que se a prisão do que a morte
é, na verdade, mais forte,
é pior estar-se preso
do que ( na vida) já morto!


(Luanda 1965 - in "Eu e o Silêncio" (1994/2008 )
Poema em geito de despedida deste Blog...mas
não significa fuga!...

Sem comentários: