quarta-feira, 22 de outubro de 2008

companheiros, na tentativa de fazer o trabalho de casa acabei fazendo a continuação do mesmo. no lugar da certeza, saiu-me a ambiguidade.

este exercício deu-me uma enorme vontade de escrever sobre a dança, porque nela tenho momentos onde nao existem palavras, nem tempo, nem espaço. neste poema em específico, quem vos parece que guia? e quem é guiado? gostava de ouvir opiniões.



Mal sei o chão sob os nossos pés
Ou as paredes espectadoras da nossa dança.

Agora – o único tempo que existe –
Sou a leve pressão do teu corpo,
A mão que se aninha no espaço entre as tuas costelas brancas,
A outra que sustenta a tua, flor tão suave;
O corpo que te envolve e protege,
Os pés que te guiam com destreza.

Abrigas timidamente o teu queixo no meu ombro.
Sinto o teu respirar húmido sussurrar-me ao ouvido

e o teu cabelo passear-se no meu rosto.

Será de quem, o coração que se ouve?





sara riobom

4 comentários:

raquel patriarca disse...

sara, gostei muito do poema todo mas adorei o não saber de quem é o coração que se ouve. também gostei do "companheiros", é bonito, fica-nos bem.
R

josé ferreira disse...

Não sei quem conduz, nem quem é conduzido, parece-me que não há chão e dois corpos rodopiam soltos e leves junto às nuvens.
Também não descubro os batimentos, quais os mais audíveis, se calhar é um tic-tac em harmonia, um de cada vez entre a melodia de uma valsa...uma dança bela!

Elza disse...

A primeira impressão vai de encontro ao que disse o José: o teu poema é tão leve que apenas vislumbrei dois corpos flutuando, dançando... Se me ponho a dissecar os versos, cheia de estereotipos, consigo ver o homem cujos pés guiam com destreza, o homem que deixa apoiar o queixo dela no seu ombro... O que será?

José Almeida da Silva disse...

O uso do advérbio «timidamente» no verso «Abrigas timidamente o teu queixo no meu ombro» parece mais adequado a uma atitude masculina. Creio que o poeta, se se tratasse de uma mulher, escolheria um outro advérbio ("ternamente") a sugerir a entrega incondicional, sem receio. No entanto, o texto assim construído ganha uma enorme ambiguidade. Não me admiraria se a voz «que se ouve» não fosse a que supus.

Provavelmente, a Sara Riobom irá esclarecer-nos, mais dia menos dia. Enquanto o não faz para acender a discussão, deixo-lhe os meus parabéns pelo texto tão bem conseguido.