Habitava da cidade
os lugares mais pequenos.
Limpava-lhe o pó,
pintava-lhe os cabelos,
escondia-lhe as rugas
(chegava mesmo a deitar-se
ou a deitar areia sobre as ruas
abertas).
Às vezes chorava-lhe no centro
a ausência,
ou matava-lhe os homens
que corrompiam os homens.
Por fim,
esquecia-lhe as feridas.
Escrevia à mão a cidade
e a cidade escrevia-se
sobretudo
no cinzento
no esquecimento.
Eram tão simples as palavras
da cidade,
mas complexos os amigos
que dela habitavam
os lugares mais pequenos.
Filipa Leal
Talvez os Lírios Compreendam
Cadernos do Campo Alegre, 2004 lido aqui
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