domingo, 3 de junho de 2012

O vagar


O vagar do que dizia soava ao escorrer do azeite, no lagar da ainda aldeia. No entanto, não morrera ele no chão, onde caíram as azeitonas deixadas. As que não se apanharam deram-se à terra. E ele ficou, com quem ficou, mas foi como azeite entornado fora de prato. Aceitou, mesmo depois de entender, até ao fim. É isso o que mais lamento.
Quase incógnito, impotente, como tantas mulheres de todos os tempos, e na inversão de papéis, mesmo assim, quando disse que não, foi não. Essas poucas ocasiões foram poucas demais, mas há quem se lembre.
Os tempos de hoje são parecidos aos dele em muitos lugares, é isso que me surpreende muitas vezes.
E se tudo pode mudar, deu o aviso, o que não muda. E o vagar do que dizia soa ainda como azeite, verde, velho, sensato, e a tempo, mesmo que ele morto. Morreu fora de casa e fora de terra. No entanto, ironicamente, ficou a esperança nesse aviso, e também tanto a agradecer. 
Anabela Couto Brasinha

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