Lillian Bassman
Faço um intervalo porque a boca se fechou
num silêncio de silício, uma campânula de vidro
imerso e sem imagens, e foi um dia de domingo –
Um caderno permanece aberto de notas dispersas sobre números
Um quotidiano, uma utilidade que não fala, nem mexe, nem
merece.
Melhor assim o silêncio –
Faço um intervalo porque penso nos teus braços
Nos teus olhos, abrindo um sorriso
Nos teus modos tímidos
Na tuas palavras sopradas
pelos lábios
Nos teus ombros típicos:
Uma alça presa e a pele à mostra –
Faço um intervalo pelo rio grande imaginário
Com um chapéu de palha e um barco
Uma viola cheia de cordas dentro das mãos
Na posição de sol e por cima do teu colo –
O barco desliza na divisão perfeita de uma linha
Pela grafite de um compasso
e a meio do rio
E podia ser uma gôndola de dias quentes
De profundidades ilíquidas, lentamente e sem a mente
Nos labirintos e nas ilações de rumos –
Faço um intervalo e penso na transparência de um horizonte
Em dias diferentes
O caminhar dos dedos como se corressem
E transpirassem e batessem num ritmo de músculo
Num íman de sede, numa entrega de tudo
Uma promessa de mundo –
Faço um intervalo porque é importante o sonho
E não creio nos demónios que calcinam a alma, como pedras
Demónios que atordoam e fazem perder os sentidos –
Acredito na cor das brisas e seguro as velas nos dias
difíceis
Porque há muitos momentos na vida:
A distância de um oceano e a diferença do frio
A proximidade numa mesma cidade tornada longínqua
E o habitar da possibilidade como dizia Dickinson –
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