Lillian Bassman "Carmen having tea" 1950
e depois é manhã, uma manhã resplandecente
depois da madrugada com as palavras debaixo do corpo
ainda morno e é primavera –
os teus olhos abrem-se na dificuldade dos braços espalhados
a perna esquerda levantada, a direita esticada, a tocar as
dobras
uma profundidade –
e os meus da mesma forma –
e é manhã, a manhã
depois do sonho das fadas
das estrelas brilhantes, da lua branca, das tuas palavras
sem durezas, macias como uma espuma a tocar areias
e o mar afaga, e é longo –
guardo-te todos os diamantes, os que são líquidos, os
sossegos mais claros
aqueles que compõem a alma, que lhe secam as lágrimas
aqueles que têm mãos e abraçam as omoplatas
as suas partes mais ósseas, para que sejam mais brandas
menos pesadas –
e depois é manhã, uma manhã de dedos e margens
que acenam e constroem pontes –
as nuvens são uma promessa
de trazerem alguma sombra e de darem um pouco de azul sem
que outros vejam
um azul que estilhaça as cavernas, os fantasmas mais
perversos
os limites do tempo na época dos frutos –
e depois é manhã, a
manhã resplandecente, sempre
até que um sinal de fumo anuncie a noite
o seu veludo, a rotação dos astros influentes
e resistentes
e eternamente iluminados –
e depois é manhã dentro do meu peito
no compasso imperfeito do sono, o círculo sem medo
que acorda o mármore dos templos e a deusa no seu manto
e as estrelas
e as estrelas –
1 comentário:
Gostei muito do seu poema cheio de estrelas!
Enviar um comentário