segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012
o fragmento 1001 e a psicanálise dos dias
Co Westerik "Zwemmer" 1962
o visível e o invisível.
a dualidade eruptiva sem ordem dentro de ti.
o imerso e a descoberta.
a manhã de três graus negativos e uma noite volúvel.
a escrita nos pés dos dias.
pode haver ausência de cor e pode haver silêncio
mas não se pára o pensamento não se pára a vida
não se degola a ideia não se afoga o sonho
não mandamos no nosso mundo
de dentro ou de fora;
peão, pedaço de pó ou vírgula
a condição do eu no todo é pouco
mas imprescindível, existe –
não te prometo um jardim permanente.
unicamente ninguém pode prometer nada.
constrói-se a vida em fragmentos.
e mesmo quando nos julgamos anjos ou demónios
acima ou por debaixo das nuvens, sozinhos
como candelabros sem uso
suspensos estamos nos segundos, as linhas e os fios;
um processo de sucessão de luz, um qualquer dia –
a maior inteligência do mundo é não adivinhar futuros
se assim fosse, se adivinhasse futuros
talvez te prometesse tudo o que sinto
talvez desenhasse no teu tronco a insígnia suprema
de raiz e húmus
de flores e rumos serenos e caminhos lisos
e lagos e rios e mares
e talvez pudéssemos cumprir tudo
segurando com as mãos o peso imenso da cidade –
a promessa que te faço não é uma certeza de dádiva.
a promessa que te faço é o querer muito e lutar sempre
e o dizer-te
que a certeza se faz no esquecimento do palco
o sermos autênticos e frágeis, não duvido.
e a certeza se faz de procurar sim a verdade e não negar o verosímil.
é tão fácil a rasteira da hora na roda dos séculos, a ilusão
o confundir cimento com areia, o esquecer de um nevoeiro
e o afirmar da forma nítida –
mas há sempre perigo, não duvido
e guardo tantas memórias, a mais doce a mais assassina
a minha a que vi nos outros a que foi um sonho –
a promessa que te faço é única como a tua nuca
quando se inclina e deixa cair os cabelos
- um poder romântico no nervo mais sensível.
e respira como os girinos e é transparente, acredita –
a maior inteligência do mundo é não adivinhar futuros
mas não há qualquer dúvida sobre a vida;
a cada dia menos um dia
e a cada dia
quando sobe a lua e nos cobre de linhos
não ainda juntos e não ainda distantes
do outro lado do mundo rebenta a luz
a mesma que luz que na manhã seguinte
adia ou cumpre a promessa
de querer muito que se ilumine –
josé ferreira 19 fevereiro 2012
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