O mais humano sentimento são.
Márcia[1]
A
meio caminho de um falso império
alguém
diz: tu que tudo desatas, leva-me contigo
o
teu corpo é feito de viagem – e repete que a pele não é uma fronteira
a
sua cara é a de todos e enrola-se na paisagem 
o
mais honesto animal – caem-lhe do bico sementes de sésamo e girassol
cabe
toda no fio de um cabelo: 
a
mais magnética das memórias do fundo
puxa-nos
para baixo
O
Cristo de Mantegna parece o Che morto – 
as
mantas de lã que estavam nos baús da CIA
 e nas arcas douradas dos Alexandrinos
esvaziadas
das rendinhas, servem-lhes de última morada
O
mesmo baptismo no Rio de Los Remédios, 
o
mais sujo da América Latina 
Relíquias,
granadas, missais, 
pontas
e molas que lhe servem de fundo
o
musgo que cresce com ou sem ideais
Os
mesmos e grandes olhinhos enrolam a paisagem 
Derrubado
o muro fica outro muro:
Invisível,
Maior, Interior
De
um lado o amor e o ódio - Do outro lado o amor e o ódio –
Em
Fátima as pumas entram na capelinha das aparições
e
estão entre os sacerdotes que as domesticam e as inserem no ritual
As
pumas e as peregrinas seguem o cortejo das velinhas 
Revitalizam
o ritual
e
as pumas e as peregrinas cantam
Sabendo
que toda a frase é incompleta
feita
para ser esquecida e reinventada, 
estranho
recheio este, um ideal,
se
em nada ele toca, mas se tudo ele liga
A
meio caminho de um falso império
 alguém diz:
Tu
que tudo desatas prende-me novamente 
Puxa-me
para o fundo 
Animal
invencível: amor.
Ouço
uma música portuguesa do século XXI que acaba assim:
A razão de ser de um poeta é.[2]
[Fim da canção].
                                                      Nuno Brito
 
 
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