quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Compostela

Fui sozinha

Ao decalcar o céu, reconheci-me
estrela de ósseas pontas, despojada de luz
O meu corpo recusava a força
de ser fósforo, caía sem lume na vegetação
e só roçava o chão das eiras, sabendo-o fruste

Caminhei pela manhã, a cada dia
entumecendo a paz em redor do túmulo
(trazia-o junto ao peito, o pequeno
ossário de um pássaro no granito)

Ao passar pelos acampamentos invejava
às tendas a prontidão para a elipse,
sem violência resumia os movimentos
do corpo

Dormi em albergues e estábulos
onde um cavalo ou uma peregrina muito velha
tinham morrido

Aprendi a descansar no perecível feno,
junto ao íntimo esterco dos outros
Não sustive a respiração


Andreia C. Faria

4 comentários:

Joana Espain disse...

Bem vinda! Belo texto.

josé ferreira disse...

Olá Andreia

Seja muito bem vinda a este espaço de múltiplas poesias.
Gostei muito do poema onde o caminho se faz de metáforas e aponta realidades no subtil final "Não sustive a respiração".

A. Roma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
A. Roma disse...

Olá Andreia. Tal como os colegas renovo os votos de boas vindas. Gosto muito dos teus poemas, neste em particular quase que me vi pelos caminhos de Santiago imerso em sensações vindo do teu poema.

A casa é tua:)
Abraço