domingo, 31 de julho de 2011

a história de Shell por Leonard Cohen


Fotografia de Bert Stern

Limitava-se a ser adorada. Por alguma razão curiosa, lembrou-se de um certo vestido que usara quando andava na escola e desejou vagamente estar a usá-lo ou saber onde estava. Ele tinha a cabeça inclinada, estava a sorrir. "Está pronto para passar a noite toda a olhar para mim", pensou ela. Sem falar, sem perguntar nada. Tentou imaginar quem seria ele.
....
Apercebeu-se que, anos atrás, era exactamente assim que desejaria ser observada, com música, diante de uma janela, com a luz suavizada pela madeira antiga.

Em breve deixaria de conseguir distinguir as pedras do muro ou a vedação de ferro encostada aos arbustos. Os passeios eram de madrepérola e, apesar de ela não ser capaz de o ver, sabia que o sol estava a arrastar a escuridão à medida que se retirava por detrás das colinas de cristas rosadas de Nova Jérsia. Será que ele iria fitá-la para sempre?

Fechou os olhos, mas nem assim deixou de sentir os olhos dele. Tinha o poder de um elogio indefensável. Não dizia que ela era bonita, mas dizia-lhe para se deleitar na sua beleza, o que era mais compreensível e humano, e agradou-lhe contemplar o prazer que criava.

(excerto de um livro de Leonard Cohen)

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