domingo, 3 de abril de 2011
há palavras válidas como os teatros gregos
Ralph Gibson
há palavras válidas como os teatros gregos
legítimas no significado, na pertença;
serás sempre
quaisquer que sejam as tempestades.
como poderia esquecer as margens do rio certo
a luz incidente de um foco de milhares de watts
transformando as folhas dos arbusto em pérolas acendidas?
como poderia esquecer os laços e os nós, e os nós dos laços
dentro de nós, nas pontas dos dedos?
como poderia ceder o lugar do uníssono
o murmurejar único de águas transparentes
nos caminhos difíceis de pedras e girinos?
como poderia esquecer as palavras ardentes
essas princesas de desejo nas tardes abstractas
onde surgia o esquecimento físico das cidades
e se transcendia nas teias tecidas de desconhecido ?
como poderia?
“povoar-te de rosas” - dizia -
como poderia?
não importa qual a cor do terramoto
qual a intensidade de um silvado de balas
na Líbia, Afeganistão ou Iraque.
não importa a altura perdida das torres caídas
a gula devoradora dos tsunamis egoístas
e podem mesmo nascer beterrabas radioactivas
nas ilhas mais longínquas. não importa -
porque sendo importante não modifica
não tem qualquer poder sobre o dizível
a música, o ondear das tonalidades
a seda simbólica das letras rejeitando as tintas
o cobre e o chumbo, fixando a prata das palavras
nos olhos históricos da fotografia -
não há forças naturais, humanas ou divinas
que possam assassinar os pêndulos do tempo
o relógio das horas partidas - os instantes depois do click.
nem metamorfose alguma que transforme
os poemas redondos
em acidentes rectilíneos -
serás sempre -
José Ferreira 3 de Abril de 2011
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